O que é epilepsia?
Hoje vamos falar de Epilepsias em diferentes idades, mas...

O que é Epilepsia?
Epilepsia é um distúrbio elétrico do cérebro que tem como sintomas, as crises epilépticas.
É uma síndrome caracterizada por duas ou mais crises epilépticas, com intervalo de tempo maior que 48 a 72 horas.
Então, se uma pessoa já teve duas ou mais crises, com um intervalo maior do que esse tempo, pode-se dizer que ela tem ou teve Epilepsia.
Dados sobre a Epilepsia
Geralmente, a Epilepsia atinge 1% da população mundial:
- De cada 100 pacientes, 70 a 80 ficam livres de crises usando medicamentos;
- 20 a 30% podem dar um certo trabalho, não respondendo bem às medicações;
- Outros, mesmo usando vários tipos de drogas antiepilépticas, não conseguirão controlar suas crises.
Não é possível estabelecer uma comparação entre o tratamento da Epilepsia de um indivíduo para outro, pois a evolução dos vários tipos de síndromes epilépticas varia muito, de uma para outra.
Muitas vezes, um indivíduo tem anos de controle sobre a Epilepsia e, de repente, começa a ter crises epilépticas, mesmo usando os medicamentos.
O que pode causar Epilepsia?
Existem diversas causas possíveis para o desenvolvimento da Epilepsia:
Nesse sentido, a causa da epilepsia pode estar relacionada a outras condições de saúde (sintomáticas), tais como:
- Glicose (taxa de açúcar que sobe ou desce);
- Tumores;
- Lesões inflamatórias;
- AVC (acidente vascular cerebral);
- Traumatismo crânio-encefálico.
- Hipoxemia (queda do oxigênio no sangue)
- Hipotensão ou choque (queda de pressão)
- Etilismo crônico
Outras condições estruturais do cérebro, além de alterações metabólicas e genéticas
Porém, na maior parte das vezes, as epilepsias não tem nenhum agente causador identificável (idiopáticas). Existe, quase sempre, uma tendência genética do indivíduo de desenvolver este distúrbio, facilmente identificável, na história de crises na família paterna ou materna.
Classificação das síndromes epilépticas
As síndromes epilépticas podem ser classificadas pelos tipos de crises, tendo geralmente mais de um tipo de crise; idade de início; se tem ou não um agente causador; se são de difícil controle ou refratárias, quando as crises não respondem a nenhum medicamento; se acontecem mais quando está acordado ou dormindo.
É importante falar um pouco sobre os tipos de crises, segunda a nova classificação de 2017:
- Focais, que podem ser perceptivas (quando o paciente está consciente e disperceptivas (quando o paciente não está consciente, durante a crise). Tanto a primeira quanto a segunda podem ser motoras ou não motoras.
- Generalizadas, motoras (exemplo: a crise tônico clônico generalizada, que é a mais conhecida: crise convulsiva) e não motoras (exemplo: a crise de ausência).
- Início desconhecido, também motoras e não motoras, mas não sabemos se o paciente perde parcialmente ou totalmente a consciência
- Não classificadas, quando não é possível caracterizá-las adequadamente.
Epilepsia na infância
Entre as síndromes epilépticas, de início na infância, as mais frequentes tem evolução benigna, mas é neste grupo, que nós podemos encontrar uma maior diversidade de Epilepsias refratárias, que são aquelas que não respondem a medicações, mantendo as crises, mesmo associando vários tipos de medicação; e Epilepsias sintomáticas que são causadas por alterações metabólicas, tumores, lesões hipóxicas (falta de oxigênio); e as de malformação subcortical e/ou cortical.
Abaixo segue alguns exemplos comuns:
- Epilepsia do Neonato que pode ser considerada uma crise Neonatal benigna, onde o paciente tem crises convulsivas, entre o terceiro e o oitavo dia de vida. Durante essa crise, a criança pode ficar parada com movimento apenas dos olhos, porém, os médicos conseguem identificar e geralmente, o paciente não tem mais crises depois.
- Epilepsia generalizada do lactente, em que o paciente evolui com crises convulsivas muito favoravelmente e após dois anos de tratamento, o uso de medicamento pode ser descontinuado.
- Epilepsia focal, as mais comuns são: a Rolândica da infância, das Espículas centrotemporais e as Occipitais.
- Epilepsia de ausência, que ocorre por volta dos 7-9 anos e que tem uma evolução bastante favorável ao controle e com chances de cura.
- Crise convulsiva febril,
- A crise convulsiva febril está dentro do quadro de Epilepsias Reflexas. Elas são comuns em crianças de até 5 anos e são desencadeadas no paciente quando o mesmo tem temperaturas acima de 38 a 40 graus.
- Pode haver casos em que ela ocorra mesmo que o paciente esteja com temperatura subfebril (37.2 – 37.8 graus). O controle, em ambos os casos, se dá mediante o uso de medicamentos.
- Se o paciente teve crises na ausência de febre, então não é considerada convulsão febril.
- Qualquer Epilepsia pode descompensar com quadro infeccioso e febre, porém, não significa que se deu febre, então vai ter convulsão.
- A convulsão febril é um quadro clínico bem característico.
Dentre as epilepsias refratárias, que é mais complexa, pois é de difícil controle medicamentoso, ou seja, ela não apresenta melhoras com o uso dos medicamentos, além de cursarem com um atraso importante no desenvolvimento neuropsicomotor.
Como exemplos, temos:
- Síndrome de West;
- Síndrome de Lennox Gastaut;
- Epilepsias mioclônicas progressivas precoces,
- Entre outras, que felizmente, são mais raras.
Epilepsia na juventude
A Epilepsia Mioclônica Juvenil
é um tipo de epilepsia generalizada, caracterizada por movimentos mioclônicos (tremores rápidos no corpo), e às vezes desenvolvimento para crises convulsivas generalizadas, tendo alterações típicas no eletroencefalograma.
Esse tipo de Epilepsia representa cerca de 5 a 10% das epilepsias como um todo.
De cada 100 pacientes que tomam medicamentos por 10-15 anos sem ter crises, 85 voltam a ter crises após a retirada dos medicamentos. Isso é uma taxa de 85% de recidiva (que não tem cura).
Epilepsia Temporal e Frontal
que tem as crises focais perceptivas e disperceptivas, além de crises convulsivas, que podem ocorrer também durante o sono.
Podem ser de fácil controle, evoluindo, nesses casos, para cura, em 03 a 05 anos; ou difícil controle. tendo probabilidade de serem refratárias, necessitando, algumas vezes, de tratamentos mais complexos, como cirurgia.
Epilepsia na fase adulta e idosa
Epilepsia Temporal e Frontal
que tem as crises focais perceptivas e disperceptivas, além de crises convulsivas, que podem ocorrer também durante o sono. Podem ser de fácil controle, evoluindo, nesses casos, para cura, em 03 a 05 anos; ou difícil controle. tendo probabilidade de serem refratárias, necessitando, algumas vezes, de tratamentos mais complexos, como cirurgia.
Epilepsias sintomáticas
secundárias a um agente causador comp AVC; hipóxia; tumores; diabetes descompensada; hipoglicemia; etilismo crônico; infecciosas (cisticercose cerebral); rotura aneurismática; traumatismo crânio-encefálico, entre outras.
Cerca de 70% dos pacientes com epilepsia respondem com controle de crises quando tratados adequadamente (o fármaco/medicamento correto para o tipo de epilepsia ou de crises epilépticas).
Quando um paciente evolui com epilepsia de difícil controle, o ideal é que seja avaliado por um especialista em Epilepsia. Isso vai determinar o direcionamento do tratamento.
Epilepsias e algumas de suas consequências
A Epilepsia refratária é bastante complexa e pode causar atraso no desenvolvimento da criança, como por exemplo, atraso cognitivo severo, portanto, é muito importante um diagnóstico precoce para que se possa fazer um controle e acompanhamento adequados.
Outras consequências estão ligadas a uma limitação para o exercício de algumas atividades laborativas, que exijam a direção de máquinas e veículos; ou quando são exercidas em grandes alturas.
E, infelizmente, ao preconceito ainda existente na sociedade, quanto a estes paciente, fazendo-os evoluir com depressão, ansiedade, reclusão e medo; sendo que, muitas vezes, estes se sentem forçados a ocultarem este diagnóstico de outras pessoas.
Diagnóstico, Tratamento e Cirurgia
O tratamento é individualizado caso a caso, sendo, na maior parte dos casos, tratamento medicamentoso.
Muitos pacientes necessitarão de um exame de Vídeo-EEG (Eletroencefalograma) mais prolongado para diagnóstico e prognóstico para cirurgia.
Alguns pacientes são bons candidatos à cirurgia de Epilepsia, muitas vezes com chance de cura ou melhora acentuada do controle de crises.
Epilepsia mata?
Sim, há casos descritos na literatura médica. A SUDEP, descrita como morte súbita em epilepsia, não relacionada a estado de mal epiléptico, trauma ou outras causas conhecidas, sendo mais frequente em paciente com epilepsias refratárias, principalmente com crises convulsivas noturnas.
Estudos sugerem que a morte súbita ocorra com o número de crises generalizadas que se apresentam, principalmente à noite, quando os pacientes são menos vigiados, porque durante as crises, as regiões do cérebro que controlam a respiração e os batimentos do coração possam ser "desligadas", ou parem de funcionar de forma adequada.
A morte pode ocorrer, portanto, por dificuldade respiratória e ou descompensação cardíaca, levando à parada cardiorrespiratória.
Vale salientar, que em minha experiência profissional, como neurologista, há mais de 22 anos, eu nunca presenciei quadro de SUDEP; mas lembremos que as epilepsias refratárias são menos frequentes (30%) e estes casos são mais encontrados neste grupo.
Por fim, quanto mais cedo a doença for diagnosticada, mais cedo o tratamento é iniciado e a pessoa pode voltar às suas atividades diárias normais.
O
médico neurologista é o especialista indicado para diagnosticar e tratar a epilepsia.
Dra Thélia Rúbia
Especialista em Neurologia e Clínica Médica, mas, acima de tudo, uma médica, antes de ser especialista.
São mais de 20 anos atendendo a especialidade de Neurologia, vendo o paciente em sua integralidade e não segmentado em partes específicas!
Atende com um olhar mais atento a todos os distúrbios, clínicos ou não, e situações, que possam interferir em todas as dores ou queixas neurológicas, que o paciente possa apresentar.
Fez Residência Médica em Neurologia e Clínica Médica, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e é Formada em Medicina, pela UFJF-MG. Também é Especialista em Eletroencefalograma pelo Hospital São Paulo (UNIFESP).