Concentração e memória além do TDAH

Dra. Thélia Rúbia • 3 de maio de 2021

O Transtorno de Hiperatividade e Déficit de Atenção (TDAH) é uma condição muito importante, mas que ainda gera muitos diagnósticos errados aqui no Brasil e em diversas partes do mundo.

Ultimamente, muitas pessoas chegam no consultório queixando-se de dificuldade de concentração, erros no trabalho e acreditam que estão com o Transtorno de Hiperatividade e Déficit de Atenção (TDAH).

Mas será que somente o TDAH causa dificuldades de aprendizado, erros e falhas? Afinal, o que faz nossa mente falhar?

Então, vamos falar inicialmente das causas do TDAH para deixar claro o que pode levar a este problema.

Um pouco mais sobre o TDAH 

O ser humano tem quatro áreas de cognição: linguagem, percepção de raciocínio, velocidade de processamento mental e memória.

Quando ele tem o TDAH, sua velocidade de processamento mental é aumentada em demasia, mas as outras três áreas da cognição não a acompanham.

Então, ele costuma ter dificuldade de aprendizado porque perde o foco, perde a concentração e não consegue fixar no que estava fazendo.

É essencial que fique claro que não existe um caso de TDAH, sem que o paciente apresente o déficit de aprendizado.

Assim, se em algum momento da vida, ele tinha alto desempenho escolar, aprendia com facilidade e isso mudou nos últimos tempos, possivelmente seu diagnóstico não será de TDAH.

Além disso, a hiperatividade acompanha esses casos, pois, com o aumento da velocidade de processamento mental, o corpo físico tende a querer acompanhar esta velocidade.

No entanto, existem uma série de outras questões, que não o TDAH, que podem levar o paciente a cometer mais erros e interferir na dificuldade de concentração e redução da memória e é essencial levar isso em consideração.

Muito bem, se não é TDAH então o que pode ser? 

Compreender os diversos fatores que podem interferir na vida do paciente é essencial para levar a um diagnóstico preciso.

Por exemplo, o uso de determinados medicamentos, além de depressão, ansiedade e insônia podem prejudicar a capacidade de manter o foco..

Além disso, existem outras duas condições que podem aumentar a velocidade de processamento mental: o Transtorno Bipolar e o Pessoas Portadoras de Altas Habilidades ou Superdotação, que não tenham suas demandas atendidas.

Transtorno bipolar 

O transtorno bipolar é uma alteração que provoca o aumento da atividade das quatro áreas da cognição.

No entanto, ele tem também outros sintomas bem típicos associados, que chamamos de déficit de controle de impulso. Isso significa que a cabeça pensa, a boca fala. A cabeça pensa, o corpo faz.

Assim, se o paciente tem vontade, ele compra. Se tem vontade, ele se mata. Se tem vontade, ele fala ou faz.

Isso traz sérias consequências em vários aspectos de sua vida.

É muito comum haver uma confusão no diagnóstico entre o transtorno bipolar e o TDAH e devemos levar isso em consideração.

Pessoas portadoras de altas habilidades ou superdotação, que não tenham suas demandas atendidas

Esta condição é pouco conhecida, mas não é incomum, em várias partes do mundo, principalmente no Brasil. Assim, estes indivíduos, que também chamamos de auto habilidosos, costumam receber um diagnóstico incorreto.

Poucos países no mundo identificam estas pessoas, como a Coreia do Sul, Japão, China, Índia e Alemanha.

Então, muitas vezes, estas mentes não são descobertas e estes pacientes são confundidos com gênios. Um gênio é uma pessoa, que é alto habilidosa, mas que fez algo grandioso para a humanidade, como Albert Einstein.

Mas um superdotado não é necessariamente um gênio. Ele é uma pessoa que tem facilidade de aprendizado, entre diversas outras características que trazem demandas específicas.

A falta de atendimento dessas demandas pode levar estes indivíduos a não se adaptarem e não se sentirem pertencentes à sociedade, se sentindo “diferentes”. Com isso, podem desenvolver transtornos psiquiátricos, vícios, entre outros problemas.

Devemos ressaltar que os alto habilidosos cognitivos correspondem a 5% da população, ou seja, numa sala de 20 alunos um se encaixa neste perfil, mas se contarmos as habilidades específicas em esportes, artes e música, esta incidência sobe para mais de 15%..

Então, apesar destes casos serem muito mais comuns do que se possa imaginar, não estamos oferecendo os devidos cuidados e suporte para esses indivíduos.

Além disso, o próprio país deixa de ganhar, pois não investe nessas mentes que costumam puxar todos os avanços em todas as áreas do saber humano.

Nestes casos, temos também a questão do sofrimento destas pessoas na época da pandemia do COVID-19.

Isso porque, elas naturalmente possuem as 4 áreas da cognição muito aceleradas e as aulas e/ou reuniões online acabam por acelerar ainda mais suas mentes.

Inclusive, o que diferencia estes pacientes daqueles com TDAH é que o paciente com déficit de atenção possui somente a velocidade de processamento mental acelerada, enquanto o auto habilidoso tem todas as áreas da cognição aceleradas.

Assim, o paciente com TDAH tem dificuldade de aprendizado, enquanto o alto habilidoso apresenta uma facilidade muito acentuada de adquirir novos conhecimentos.

No entanto, isso não quer dizer, que um paciente superdotado não tenha fragilidades.

Caso estas pessoas não tenham suas demandas atendidas e não sejam devidamente orientadas, elas sofrem por serem diferentes, tentando renunciar às suas habilidades específicas, para terem sensação de pertencimento a um grupo social e isto os torna insatisfeitos e frustrados.

Sofrem por um excesso de atividade mental, que se não souberem controlar, acabam por torná-los pouco produtivos, pois mudam o foco com rapidez; perdendo persistência e motivação para suas atividades.

Perdem a percepção do que os cercam e não os interessam, se tornando mais distantes e mais isolados das outras pessoas! 

Nestes tempos de homeschooling e homeoffice, pessoas com este perfil são especialmente afetadas, piorando e intensificando mais suas fragilidades!

Não podemos esquecer que este perfil, por ter sua velocidade de processamento mental muito aumentada, seu corpo físico também quer acompanhar toda essa velocidade, por isso essas pessoas também são agitadas.

A importância do diagnóstico correto

Neste ponto, devemos destacar que cada uma destas condições tem um tratamento distinto e, por isso, fazer um diagnóstico adequado é essencial.

No entanto, atualmente, os diagnósticos de TDAH estão ocorrendo em demasia e, muitas vezes, em pacientes que possuem outro distúrbio ou condição.

É muito importante se atentar para esse tipo de diagnóstico e, dessa maneira, passar a atender as necessidades específicas de cada indivíduo.

Claro que o TDAH existe, isso é um fato. Mas existem outros diagnósticos e precisamos estar atentos para não rotular os pacientes de maneira inadequada.

Isso porque, ao fazer um diagnóstico inadequado, nós estamos atrasando a devida condução do tratamento e aumentando a probabilidade de trazer sequelas irreversíveis para a vida dessas pessoas.

Então, se você está com dificuldade de se concentrar, de memorizar as informações, ou se está com dificuldades no trabalho, procure um médico especialista.

Somente assim você receberá as devidas orientações e um tratamento adequado de acordo com a sua necessidade específica.

Dra Thélia Rúbia

Especialista em Neurologia e Clínica Médica, mas, acima de tudo, uma médica, antes de ser especialista.

São mais de 20 anos atendendo a especialidade de Neurologia, vendo o paciente em sua integralidade e não segmentado em partes específicas!


Atende com um olhar mais atento a todos os distúrbios, clínicos ou não, e situações, que possam interferir em todas as dores ou queixas neurológicas, que o paciente possa apresentar.


Fez Residência Médica em Neurologia e Clínica Médica, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e é Formada em Medicina, pela UFJF-MG. Também é Especialista em Eletroencefalograma pelo Hospital São Paulo (UNIFESP).

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