Complicações pós COVID-19 – Saiba mais

Dra. Thélia Rúbia • 2 de maio de 2021

Muitas são as dúvidas no que tange às complicações pós COVID-19, que podem comprometer a saúde do paciente.

O COVID-19 é um vírus típico que causa processos de infecção de vias aéreas superiores. A infecção, causada por ele, de fato, leva a um quadro clínico muito parecido com o da gripe, mas pode ter também outros sintomas associados.

Os sintomas mais típicos da primeira fase, ou seja, fase de infecção do vírus são a febre, dor de garganta, dificuldade de engolir e tosse seca. Em alguns casos, o paciente pode ter perda de olfato e paladar, diarreia, dor de cabeça, dor atrás dos olhos, entre outros sintomas.

A grande maioria das pessoas que contraem o COVID-19 evoluem com poucos sintomas associados à infecção.

No entanto, existem aquelas que têm febre recorrente ou persistente e evoluem com uma resposta inflamatória exagerada e não adequada.

Complicações pós COVID-19 para pacientes que desenvolveram a forma grave da doença

Em alguns pacientes que desenvolvem a forma grave da doença, o sistema imunológico começa a reagir de uma maneira intempestiva.

Então, os anticorpos começam a atacar estruturas do próprio corpo e isso é bastante prejudicial.

As principais células alvo seriam as pulmonares, onde há maior presença do vírus. Além disso, as estruturas responsáveis pela coagulação (fatores de coagulação) também tornam-se alvo, fazendo uma tempestade de citocinas no organismo e criando um padrão de coagulação exagerado.

Além disso, outros órgãos alvos são o fígado, o rim, coração e o cérebro.

Nem todos os vírus são capazes de atravessar a barreira hematoencefálica (estrutura que protege o Sistema Nervoso Central), mas o coronavírus chega ao cérebro com facilidade.

Então, quando ele atinge o cérebro, gera uma infecção no local e pode causar certas alterações. Também o vírus da Dengue e da Zica podem agir desta forma.

Geralmente, as sequelas do COVID-19 estão associadas, principalmente, aos pacientes graves que ficaram longos períodos na UTI.

Como principais sequelas, podemos citar:

  • Comprometimento de grande parte do pulmão, gerando limitação respiratória, o que demanda muito tempo de fisioterapia para recuperação;
  • Problemas como encefalite, falência de rins e falência hepática, causados por conta do choque séptico, ou seja, uma infecção generalizada por bactérias oportunistas. Inclusive, a recuperação do rim pode levar bastante tempo;
  • Longos períodos de síndrome de fadiga crônica, com cansaço, astenia e baixa energia,  devido ao quadro encefalítico.
  • Várias complicações típicas do paciente crítico, que ficam internados em UTI; como infecções por bactérias multiresistentes; perda importante de massa magra, com consequente perda de força muscular; disfunções labirínticas crônicas etc.
  • Tromboses importantes, podendo levar a quadros clínicos graves, como tromboembolismo pulmonar e trombose  venosa profunda.

Claro que todas estas sequelas podem variar conforme o quadro do paciente enquanto ele esteve na UTI.

Um ponto que sabemos é que, caso o vírus atinja o cérebro, este tecido é muito friável e sensível e demora muito para recuperar.  

Então, pacientes que sofrem abalos no cérebro demoram um tempo enorme para poder recuperar a disposição para as atividades físicas e mentais em comparação ao quadro antes dele sofrer a lesão cerebral.

Complicações pós COVID-19 para pacientes que desenvolveram a forma leve da doença

E os casos leves, podem deixar sequelas?

Atualmente, existem muitos relatos de pacientes que tiveram quadros leves, mas apresentam problemas de cansaço, dificuldade de memorização e dificuldade de dormir.

Neste ponto, devemos frisar que a COVID-19 é uma doença ainda muito recente. Na ciência médica, precisamos de tempo e muitos estudos para ter algumas certezas.

Ou seja, ainda precisamos de mais tempo para sabermos ao certo quais as complicações do COVID-19 em pacientes que tiveram formas leves da doença.

No entanto, já podemos observar alguns pontos. Por exemplo, muitos pacientes apresentam um quadro encefalítico e podem ficar cansados, sendo necessário alguns meses para recuperarem a energia.

Além disso, há a possibilidade de desenvolverem uma trombose, uma vez que o vírus interfere no sistema de coagulação.

Então, o paciente pode ter uma trombose venosa profunda, que é a formação de trombos nas veias profundas da perna, com risco de um coágulo se soltar e ocasionar uma embolia pulmonar.

Os pacientes podem também ter outros tipos de trombose, como a trombose dos seios venosos no cérebro, que também é um quadro grave

Outro ponto importante é que a doença mexe com o sistema imunológico, que pode passar a atacar a bainha de mielina dos nervos, ou seja, a capa de proteção dos nervos periféricos.

Isso pode ocasionar uma doença conhecida: Guillain-Barré (SGB) ou Polirradiculoneurite aguda (PRN).

Nestes casos, o paciente tem um quadro de fraqueza que começa nos pés e vai acendendo para os braços, além de desenvolver uma dificuldade respiratória, que pode ser grave.

Não sabemos ainda, com certeza, se o paciente pós COVID poderá ter maior facilidade no desenvolvimento de outras doenças, como lúpus ou algum outro problema autoimune; além de doenças neurodegenerativas, como Parkinson ou Alzheimer.

Devemos lembrar que grande parte desses sintomas não é proveniente exclusivamente do coronavírus e podem ocorrer graças a infecções causadas por outros vírus também.

E os sintomas psiquiátricos ou psicológicos?

Pode ocorrer também do paciente evoluir para um quadro de síndrome pós-traumática após contrair o COVID-19.

Isso porque, esta infecção está sendo muito associada a uma patologia grave e que pode matar.

Então, as pessoas começam a desenvolver aquela sensação de que se pegar o vírus irá morrer, perdendo o significado relativo dos fatos.

Dessa maneira, é bastante comum que pacientes desenvolvam a síndrome pós-traumática, acompanhada de uma depressão ou ansiedade de difícil controle.

Todos esses distúrbios perturbam a qualidade do sono, a capacidade de concentração e a memória. Além disso, esses quadros geram muito cansaço e pouca disposição.

Todos esses sintomas psiquiátricos podem diminuir significativamente a qualidade de vida dos indivíduos no pós COVID.  

Como fazer o acompanhamento?

No geral, quando temos um caso de paciente no pós COVID que apresenta uma série de sintomas, o ideal é fazer uma investigação muito detalhada para entender o que pode estar ocorrendo.

Assim, buscamos realizar todos os tipos de exames para investigar a existência de doenças de todas as naturezas.

Então, caso você ou algum conhecido estejam passando por esse tipo de dor, o ideal é que procurem um profissional competente para poder investigar de maneira adequada o quadro.

Dessa maneira, poderemos tratar as condições que estão afetando a qualidade de vida, além de orientar e desmistificar muitas questões.  

Mas, acima de tudo, é preciso que fique claro que a maioria das pessoas evoluem muito bem quando contraem este vírus, e não o contrário.

Além disso, todas estas complicações que citamos aqui podem ocorrer devido infecções de uma série de outros vírus, não sendo exclusividade do COVID-19.

Então, vamos olhar para esta questão de forma responsável e colocar o problema de forma correta e real.

Caso você sinta necessidade, procure um médico especialista para lhe auxiliar a tratar as complicações pós COVID-19!

Dra Thélia Rúbia

Especialista em Neurologia e Clínica Médica, mas, acima de tudo, uma médica, antes de ser especialista.

São mais de 20 anos atendendo a especialidade de Neurologia, vendo o paciente em sua integralidade e não segmentado em partes específicas!


Atende com um olhar mais atento a todos os distúrbios, clínicos ou não, e situações, que possam interferir em todas as dores ou queixas neurológicas, que o paciente possa apresentar.


Fez Residência Médica em Neurologia e Clínica Médica, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e é Formada em Medicina, pela UFJF-MG. Também é Especialista em Eletroencefalograma pelo Hospital São Paulo (UNIFESP).

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