Alzheimer tem cura?

Dra. Thélia Rúbia • 17 de fevereiro de 2020

Alzheimer tem cura?

Em todo mundo, a população tem envelhecido muito e o Brasil não está fora disto. É correto afirmar que o diagnóstico de doenças, mais comuns na senilidade, também vai aumentar exponencialmente, com o tempo. A doença de Alzheimer é uma doença tipicamente senil, tendo maior prevalência após os 65 anos, sendo que após esta idade, a probabilidade de se ter a doença dobra, a cada 05 anos.

Das demências senis, o Alzheimer é a mais frequente, seguida pela demência do tipo vascular. Diante de uma prevalência tão alta, as pessoas (parentes e amigos) tendem a serem mais tolerantes, com as falhas do idoso, achando que esquecimento e falhas cognitivas são próprias do envelhecimento e não buscam atendimento médico. É característico, nesta doença, o paciente, portador da mesma, não ter crítica em relação a suas falhas, chegando a negá-las.

A diminuição das atividades laborativas ou quaisquer outras, nesta idade, é muito grande, que somado aos itens anteriores, dificultam o diagnóstico precoce desta doença, que tem tratamento, apesar de não ter cura. Para perceberem as falhas no ente querido, as pessoas têm que conviver, no dia a dia, com o idoso.

Devido ao exposto acima, quando os pacientes chegam no consultório, eles já estão em uma fase mais avançada da doença, não sendo raro, a chegada em um estágio tão avançado, em que não podemos mais fazer algo para parar ou atrasar a evolução da doença.

Torna-se necessário um esclarecimento contínuo sobre esta patologia, para, cada vez mais pacientes poderem se beneficiar dos recursos terapêuticos, que conferem qualidade de vida para muitos idosos. É preciso que os parentes e amigos levem seu ente querido, acima de 65 anos, regularmente, ao consultório de um neurologista, para acompanhar sua evolução cognitiva, através de testes cognitivos apropriados.

Causas do Alzheimer

A doença de Alzheimer está classificada como uma doença degenerativa. Neste tipo de doença, um grupo de células de nosso corpo começa a envelhecer e morrer em uma velocidade bem mais rápida do que o restante das células.

No caso do Alzheimer, são as células colinérgicas do cérebro, que começam a envelhecer e morrer mais aceleradamente. Isto acontece pela formação de placas cerebrais senis que contêm depósitos extracelulares de peptídeo β-amiloide e emaranhados neurofibrilares intracelulares que contêm proteína tau hiperfosforilada, causando disfunção e morte destas células. Ainda não sabemos o por quê que isto começa a acontecer.

Os casos de origem puramente genética são em menor número, portanto a doença pode acontecer em qualquer pessoa, tendo maior incidência nas pessoas com história familiar da doença, baixo nível de escolaridade, portadores de depressão e transtorno de ansiedade sem tratamento, traumatismo craniano, Síndrome de Down, diabetes mellitus, hipertensão arterial, tabagismo, hiperinsulinemia, inatividade física, dislipidemias, ou qualquer outra condição que tenha influência negativa sobre o cérebro.

Sintomas do Alzheimer

Com o envelhecimento, é comum nós perdermos o vigor físico e intelectual, pois envelhecer é um processo de disfunção e morte progressiva de nossas células. Portanto, temos uma perda cognitiva progressiva, mas discreta, na senilidade. Cognição são todas as habilidades do ser humano, que o capacita para se localizar no tempo e no espaço, para memórias de curta e longa duração e funções mais nobres, típicas do ser humano, como cálculo e linguagem.

No Alzheimer, o paciente começa a perder, de forma acelerada, estas habilidades, sendo pior em uma área ou outra (áreas da cognição), variando de paciente para paciente. De uma maneira geral, o paciente começa a perder a memória para fatos recentes, preservando a memória para fatos antigos.

É comum, em fases iniciais, que atividades, consideradas fáceis para o paciente, que ele comece a ter dificuldade de fazer. Se antes, demorava 01 hora para fazer algo, começa a demorar mais tempo ou não consegue. Inicia uma atividade, lembra de outra e esquece a que estava fazendo, deixando várias atividades pela metade; por conta disso, começa a perder os objetos necessários para as tarefas.

Começa a ter episódios em que se perde em lugares que conhece bem, demorando um tempo para se localizar. Vai ao mercado comprar alguma coisa, lembra de outra; compra a outra e volta para casa sem comprar o que queria antes; chega em casa, lembra que não comprou o que precisava e volta novamente. Em situações de stress, tende a piorar agudamente o desempenho cognitivo, resultando no que o paciente chama de “brancos”!

Estes sintomas são flutuantes, tendo momentos que não sente, mas acabam voltando, confundindo os familiares, que, muitas vezes acham, que o paciente está fingindo. Por conta de todas estas falhas, o paciente vai ficando, cada vez, mais irritado, inseguro e ansioso, tendo muitas alterações comportamentais que não tinha antes, podendo desencadear transtornos psiquiátricos, como depressão, transtorno bipolar, transtorno de sono etc.

Por conta da insegurança, os paciente não querem mais sair de casa, pois se sentem mais seguros em seu ambiente. É comum isto ser causa de briga com seus familiares. Diante da perda da memória, é comum também, o paciente hipertrofiar determinadas memórias, fazendo seus familiares acreditarem que a memória do paciente é melhor do que a deles.

Se não tiver tratamento a perda de todas as áreas cognitivas vão se fazendo progressivamente, até o paciente perder inclusive a memória para fatos antigos, não reconhecendo familiares próximos; se perdendo dentro de casa e até dentro do próprio quarto, chegando à restrição ao leito. Devido a longa permanência no leito e atrofia cerebral, o paciente vai enfraquecendo até ter dificuldade de engolir, falar, respirar e tossir, morrendo de infecções simples.

Tratamentos para o Alzheimer

A doença de Alzheimer não tem cura; mas por ser muito frequente, é uma das doenças neurológicas mais estudadas. Atualmente, o tratamento visa proteger as células colinérgicas do cérebro (tratamento neuroprotetor), com o objetivo de atrasar, ou até, paralisar a evolução da doença; por isso, é muito importante o diagnóstico precoce da mesma. Em fases avançadas, as células colinérgicas já estão severamente danificadas, não tendo como agirmos para estabilizar o quadro.

Usamos, para esta finalidade, os anticolinesterásicos (rivastigmina ou donepezil ou galantamina); e a memantina. Tratamos também as comorbidades psiquiátricas, como depressão, insônia, agitação e agressividade.Tenho também, como objetivo principal, cuidar do familiar que é o responsável direto pelo paciente; para orientá-lo e dar apoio, pois este sofre um impacto negativo, muito importante, da doença de seu familiar. Se o cuidador não estiver bem, o paciente piora muito seu processo evolutivo.

Ao suporte medicamentoso e psicológico, é necessário entrar com medidas de estímulos cognitivos, que auxiliam no tratamento, realizadas por profissionais especializados em fisioterapia cognitiva, como fisioterapeutas, terapeuta ocupacional, neuropsicólogos etc.

Medidas simples como manter-se lendo, aprendendo habilidades novas, fazendo palavras cruzadas, pegando caminhos diferentes para ir para casa, não deixando que as pessoas façam atividades que você pode fazer, como fazer compras, ir ao banco, ir ao mercado; mantendo a autonomia o máximo que puder; ajudam muito no processo evolutivo da doença ou podem atrasar o início da mesma.

Conclusão

Viver é uma arte e para envelhecer bem é necessário uma sabedoria maior ainda. Temos que nos preparar para nosso envelhecimento e para o envelhecimento de nossos entes queridos; e, com certeza, a negação não é o melhor caminho.

Ao tomarmos consciência desse processo, sanando a ignorância e preconceitos, podemos tomar atitudes preventivas, que garantirão uma maior qualidade de vida na senilidade. Um dia, fomos dependentes de nossos pais, sendo natural, que, na senilidade, eles precisem muito de nós.

Vamos olhá-los com carinho e atenção, para podermos identificar problemas, mais comuns nesta idade, como a doença de Alzheimer e conduzi-los, com serenidade e tranquilidade, para o bem do paciente e dos familiares.

Pior que o diagnóstico do Alzheimer, é o paciente chegar em uma fase avançada da doença, sem que os familiares tenham percebido, tirando, do paciente, a possibilidade de desfrutar dos benefícios que o tratamento, em uma fase precoce da doença, pode trazer para todos.

Melhor que poder envelhecer, é poder envelhecer com qualidade de vida.

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Dra Thélia Rúbia

Especialista em Neurologia e Clínica Médica, mas, acima de tudo, uma médica, antes de ser especialista.

São mais de 20 anos atendendo a especialidade de Neurologia, vendo o paciente em sua integralidade e não segmentado em partes específicas!


Atende com um olhar mais atento a todos os distúrbios, clínicos ou não, e situações, que possam interferir em todas as dores ou queixas neurológicas, que o paciente possa apresentar.


Fez Residência Médica em Neurologia e Clínica Médica, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e é Formada em Medicina, pela UFJF-MG. Também é Especialista em Eletroencefalograma pelo Hospital São Paulo (UNIFESP).

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