O que é a meningite – como tratar e prevenir

Dra. Thélia Rúbia • 5 de fevereiro de 2021

A meningite é um processo inflamatório que causa dor, edema e vermelhidão nas meninges.

As meninges são as membranas que revestem todo sistema nervoso central (cérebro, tronco encefálico, cerebelo e medula espinhal) e, no total, possuímos  03 membranas (pia-mater, dura-mater e aracnóide).

Quais são os tipos de meningite? 

As meningites podem ser agudas , quando é de início recente, de evolução em dias, subagudas , quando a evolução é em semanas e crônicas , quando o processo inflamatório dura meses ou anos.

Além disso, podem ser virais, bacterianas, fúngicas e as causadas por parasitas , quando há um patógeno externo causador do processo inflamatório. 

Geralmente, as meningites virais são as mais frequentes e têm uma evolução benigna, com algumas exceções, como a causada pelo herpes vírus, que pode cursar com grave meningoencefalite, com risco de óbito e sequelas importantes, se não houver um tratamento adequado.

Já as meningites bacterianas têm uma evolução mais aguda e mais grave, devendo ser diagnosticadas e tratadas mais rapidamente. 

As meningites fúngicas são menos frequentes, podendo ter uma evolução mais prolongada e crônica, acometendo pessoas deprimidas imunologicamente, como portadores de HIV, de doenças auto-imunes ou usuários de drogas depressoras do sistema imunológico.

Além disso, a meningite fúngica criptocócica , a mais comum nesta categoria, pode ter uma evolução grave, com possibilidade de óbito. Dessa maneira, nestes casos é necessário fazer um diagnóstico e tratamento rápidos.

As causadas por parasitas são mais raras e tendem a uma evolução subaguda e crônica.

Existem ainda as meningites que não tem um patógeno externo associado ao processo inflamatório, por exemplo, os TCE ( traumatismos cranioencefálicos), AVCHs (Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico), com HSA (hemorragia subaracnóidea), como nas roturas aneurismáticas .

Nestes casos de roturas aneurismáticas ocorre uma hemorragia para o espaço subaracnóide (entre a membranas pia-mater e a aracnóide).

Neste local se encontra o líquor, que é um líquido com aspecto de água cristalina produzido dentro do cérebro e que tem como principal função absorver o impacto, protegendo o cérebro contra traumas. 

Assim, quando o sangue invade este espaço, provoca um processo inflamatório das meninges gerando sintomas semelhantes à meningite bacteriana ou viral. 

As doenças auto-imunes também podem causar estes efeitos inflamatórios, mas isso é mais raro.

Quais são os sintomas da meningite? 

O quadro clínico das meningites variam muito na intensidade, velocidade de instalação e duração dos sintomas a depender do agente causador deste processo inflamatório. 

Os sintomas básicos são dor de cabeça ou cefaléia, rigidez de nuca, febre e vômitos , muitas vezes em jatos. 

As meningites virais , geralmente, causam cefaléia intensa, principalmente atrás do olho, rigidez de nuca e pode ou não causar febre e/ou vômitos. Normalmente, os sintomas evoluem em dias e são mais moderados, durando até 02 semanas. 

As bacterianas têm evolução mais aguda, com sintomas mais intensos, como febre, cefaléia, rigidez de nuca e vômitos em jato. Além disso, caso a equipe médica não realize o diagnóstico prontamente, pode evoluir para rebaixamento do nível de consciência (sonolência e confusão mental) e óbito. 

Algumas meningites bacterianas, como a meningocócica, têm uma evolução muito rápida, e devemos tratá-la com destreza para diminuir a letalidade. 

Todavia, existem meningites virais que são tão letais quanto as bacterianas, tendo como exemplo, a meningoencefalite herpética ;  e existem algumas meningites bacterianas que podem evoluir cronicamente e são menos letais, como por exemplo, as causadas pelas bactérias da tuberculose e da sífilis.

Já no caso das fúngicas , a evolução costuma ser subaguda e crônica com sintomas mais moderados, mas constantes, podendo durar anos e, às vezes, sem possibilidade de cura, a depender do tipo de fungo, que está causando a infecção. 

Nestes casos, a dor de cabeça ou cefaléia é o principal sintoma e o paciente pode ou não ter febre, vômitos ou rigidez de nuca. Todavia, poderá ter também outros sintomas, como convulsões, confusão mental, distúrbio de marcha, incontinência urinária e edema de papila e até mesmo, óbito, devido à hipertensão intracraniana, presente na meningite fúngica criptocócica , que é a principal representante deste tipo.

As meningites causadas por parasitas,  são bem mais raras e cursam com cefaléia e dor de cabeça persistente, intensa e refratária aos tratamentos comuns. São processos inflamatórios persistentes e crônicos, tendo casos relatados, que ocorreram em decorrência de cistos de neurocisticercose , presentes no espaço subaracnóide.

As meningites causadas por AVCHs ou TCE , cursam com cefaléia intensa, rigidez de nuca, vômitos, sem febre, podendo ou não ter rebaixamento do nível de consciência e são melhor relatados em outro artigo.

Diagnóstico da meningite 

O diagnóstico da meningite vai depender do agente etiológico da mesma. 

Caso o agente etiológico suspeito seja infeccioso, faremos uma coleta de líquor por punção lombar ou suboccipital para análise macroscópica e microscópica, em busca da confirmação da infecção e diagnóstico específico do agente infeccioso, causador da inflamação. 

Além disso, podemos medir a pressão intracraniana, durante a coleta do líquor e isso é importante no diagnóstico de meningite criptocócica.  

Este procedimento também é indicado para as outras causas de meningite não infecciosa, principalmente, quando temos suspeita de hemorragia subaracnóidea e o sangue não é visualizado em exames de imagem, como na tomografia computadorizada de crânio ou ressonância nuclear magnética de encéfalo. 

Devemos ter o cuidado  de pedir uma tomografia de crânio antes de colher o líquor, caso suspeitemos de aumento na pressão intracraniana para evitar complicações. 

Além disso, hemograma e outros exames de sangue também são importantes para avaliar, inclusive, a gravidade da infecção ou outros diagnósticos diferenciais.  

Como é o tratamento da doença?

O tratamento também depende da etiologia da meningite.

Na meningite viral, está indicado o uso de sintomáticos para a dor de cabeça, enjoo e febre, além de muita hidratação e repouso, até a recuperação completa dos sintomas.

No caso da meningoencefalite herpética, que é mais grave, devemos usar aciclovir injetável, em ambiente hospitalar.

Na meningite bacteriana, a internação está indicada para aplicação imediata de antibióticos e corticoides, para diminuir o processo inflamatório e outras complicações, como perda da audição, distúrbio de linguagem, retardo mental, anormalidade motora e distúrbios visuais. 

Já na meningite fúngica, usamos antifúngicos intravenosos com duração variável a depender do agente causador e continuando depois, com antifúngico por via oral, a nível ambulatorial. O tratamento para algumas infecções causadas por este patógeno pode durar anos ou não ter cura.

A meningite causada por parasitas, é muito rara, já tendo sido relatado casos de meningite crônica por neurocisticercose, podendo usar analgésicos e corticoides, cronicamente, para controlar os sintomas, melhorando a qualidade de vida do paciente.       

A meningite deixa sequelas? 

As meningites mais graves, como a meningite bacteriana, viral por Herpes Zooster ou Fúngica Criptocócica podem levar a sequelas, como por exemplo:

  • Perda da audição;
  • Distúrbio de linguagem;
  • Retardo mental;
  • Anormalidade motora;
  • Distúrbios visuais.

Como prevenir a doença?

Para prevenir meningite, devemos manter nosso sistema imunológico saudável, com a prática de exercícios físicos e uma alimentação saudável. 

No entanto, quando o paciente tem uma depressão do sistema imunológico, deve evitar aglomerações e manter os ambientes ventilados, reforçar os hábitos de higiene e não compartilhar objetos de uso pessoal.

É muito importante procurar atendimento imediato ao sentir os sintomas da meningite. Isso pode fazer toda a diferença no sucesso do tratamento.

Dra Thélia Rúbia

Especialista em Neurologia e Clínica Médica, mas, acima de tudo, uma médica, antes de ser especialista.

São mais de 20 anos atendendo a especialidade de Neurologia, vendo o paciente em sua integralidade e não segmentado em partes específicas!


Atende com um olhar mais atento a todos os distúrbios, clínicos ou não, e situações, que possam interferir em todas as dores ou queixas neurológicas, que o paciente possa apresentar.


Fez Residência Médica em Neurologia e Clínica Médica, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e é Formada em Medicina, pela UFJF-MG. Também é Especialista em Eletroencefalograma pelo Hospital São Paulo (UNIFESP).

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